Setembro Amarelo: conhecendo os benefícios da biblioterapia para o bem-estar mental

O mês de setembro é marcado pela campanha Setembro Amarelo, uma iniciativa mundial que visa conscientizar sobre a importância da prevenção do suicídio e a promoção da saúde mental. Neste contexto, trouxemos o tema “Biblioterapia”, uma prática entre os(as) bibliotecários(as) brasileiros(as).

Mas o que é exatamente a Biblioterapia? A palavra tem raízes gregas, onde “Biblon” significa livro e “Therapia” significa tratamento. Apesar de sua origem clara, a terminologia em torno da Biblioterapia tem sido objeto de debate e evolução ao longo do tempo.

Nesta matéria, vamos adentrar no fascinante universo da Biblioterapia, uma prática que vem sendo meticulosamente estudada e aprimorada por bibliotecários(as) brasileiros(as) desde a década de 90. Destaca-se a contribuição pioneira da bibliotecária paraibana Marília Pereira, cujo livro “Biblioterapia” serviu como fonte de referência para este conteúdo.

Iremos explorar as diversas terminologias ligadas à Biblioterapia e como essa abordagem vai muito além de simplesmente tratar questões. Ela abrange a busca pelo verdadeiro significado do mundo e reconhece o potencial transformador da leitura, revelando-se como uma ferramenta poderosa para o enriquecimento pessoal e a compreensão mais profunda da existência humana.

A Evolução da Terminologia da Biblioterapia

A Biblioterapia não é uma palavra nova; foi criada em 1916 por Samuel Mechord Grothers, conforme um artigo publicado no Atlantic Monthly. No entanto, desde então, houve debates sobre a adequação dessa terminologia. Alguns achavam que era muito ampla, enquanto outros a consideravam muito restrita. Surgiram termos alternativos, como “biblio-diagnóstico” para avaliação e “bibliofilaxia” para o uso preventivo da leitura.

Outros termos, como “bibliogomia”, “biblioconselho” e “terapia bibliotecária”, foram propostos, cada um com suas próprias nuances e aplicações. A diversidade de terminologias reflete a complexidade da Biblioterapia e como ela pode ser aplicada de várias maneiras.

A Biblioterapia em Ação

A Biblioterapia não se limita apenas à cura; ela também se destina à descoberta e ao desenvolvimento pessoal. Os(as) biblioterapeutas têm um papel importante em ajudar os clientes a aplicar a literatura em suas vidas de maneira significativa.

A teoria de leitura de Rabakin, chamada de “Bibliopsicologia”, destaca como a experiência de leitura é única para cada indivíduo. O leitor cria, constrói e combina significados a partir das palavras no livro. Portanto, o bibliotecário desempenha um papel fundamental em orientar os leitores a explorar o mundo da leitura de forma mais profunda, tornando o livro um instrumento poderoso para a transformação pessoal.

Biblioterapia e Mudança Pessoal

A Biblioterapia transcende a mera cura, buscando também promover uma transformação pessoal. Ao contrário das terapias convencionais, ela capacita o indivíduo a se auto-explorar e compreender. Utilizando a literatura como meio, os usuários podem ganhar novas perspectivas e encontrar uma força interior para promover mudanças. Conforme Pinheiro e Ramires (2020) explicam, a biblioterapia é aplicada para auxiliar em uma ampla gama de problemas, visando criar uma ligação entre o leitor e a narrativa.

[…] a biblioterapia é uma atividade na qual utiliza a leitura como auxílio no tratamento de pessoas com problemas físico, mental, social, emocional, educacional, sem distinção de faixa etária. Podendo ser aplicada em escolas, creches, asilos, hospitais, presídios, orfanatos, entre outros locais. Um dos objetivos da biblioterapia é proporcionar momentos de descontração e lazer, criando um vínculo/diálogo entre leitor e ouvinte, fazendo com que estes se sintam parte da história.[…] (Pinheiro; Ramires. 2020).

A abordagem em grupo na Biblioterapia se destaca como especialmente eficaz, permitindo que os participantes compartilhem suas vivências de leitura e se apoiem mutuamente no processo de desenvolvimento pessoal. Essa estratégia descentraliza o papel do terapeuta, priorizando o indivíduo e o grupo como um todo.

 

A Biblioterapia como Atividade Recreacional e Ocupacional

Para muitos bibliotecários, a palavra “terapia” pode ter conotações negativas, especialmente quando se trata de política e poder. No entanto, a Biblioterapia deve ser vista como uma atividade recreacional e ocupacional que promove o bem-estar e a autorreflexão.

Os bibliotecários brasileiros estão cada vez mais conscientes do poder da Biblioterapia em melhorar a vida de seus usuários, independentemente da terminologia usada. Em vez de se preocuparem com a alienação das pessoas, os bibliotecários devem abraçar a Biblioterapia como uma ferramenta valiosa para o crescimento pessoal e o enriquecimento das experiências de leitura.

 

 

Referência: 

PEREIRA, Marília Mesquita Guedes. Biblioterapia: proposta de um programa de leitura para portadores de deficiência visual em bibliotecas públicas. João Pessoa: Universitária, 1996.

PINHEIRO, Mariza Inês da Silva.; RAMIRES, Daniela Duarte. Biblioterapia: das dissertações e teses aos cursos de Biblioteconomia no Brasil. Ciência da Informação em Revista, [S. l.], v. 7, n. 1, p. 153–167, 2020. DOI: 10.28998/cirev.2020v7n1j. Disponível em: https://www.seer.ufal.br/index.php/cir/article/view/8043. Acesso em: 29 set. 2023.

Paloma Kezia

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